A proteção estabelecida pelas vacinas comerciais contra a EA disponíveis hoje no mercado tem sido suficiente para que tenhamos uma baixa incidência no número de casos da doença. Apenas algumas dezenas de casos foram reportados nos últimos anos, e muitos desses surtos esporádicos estão atrelados a situações em que houve falhas no processo de vacinação.
Não existe tratamento eficaz para a EA e o diagnóstico se baseia na histórico clínico do lote, presença de sintomatologia típica, isolamento e identificação do patógeno, provas sorológicas (vírus neutralização e ELISA), histopatologia e diagnóstico molecular (RT-PCR).
A EA deve ser diferenciada de outras enfermidades que causam sintomas nervosos, como doença de Newcastle, doença de Marek, Micoplasma e fungos (meningoencefalite bacteriana e encefalite micótica), deficiência nutricional causada por vitamina E (encefalomalácia), vitamina D. tiamina e riboflavina, meningoencefalite (perus) deficiência de minerais como cálcio e fósforo (raquitismo) e intoxicação (ionóforos e nitrofuranos).
A vacinação contra a encefalomielite aviária tem como principais objetivos:
- Prevenir a possível queda da produção de ovos;
- Em matrizes, prevenir a transmissão do vírus da EA à progênie por meio do ovo, que pode causar distúrbios neurológicos e mortalidade.
Ao estabelecer nossos programas vacinais, devemos estar atentos a alguns cuidados envolvendo a vacinação contra a EA. As aves precisam receber a vacina viva após as 8 semanas de vida e no máximo 4 semanas antes do início da produção de ovos. Aves muito jovens, com menos de 8 semanas, podem desenvolver a doença se expostas precocemente ao vírus. Outro fato é o de que os anticorpos maternais persistem até próximo às 8 semanas nas aves, o que neutralizaria a ação do vírus. Durante 4 semanas pós-vacinação, ocorre transmissão vertical do vírus vacinal, que é excretado nos ovos e nas fezes e essa transmissão vertical pode causar EA na progênie.
É comum a utilização de vacinas associadas contra EA e bouba aviária, por conta de serem aplicadas na mesma época e pela mesma via (punção na membrana da asa). Uma dose para poedeiras comerciais e duas para reprodutoras têm sido suficientes para conferir uma boa imunização. Frangos de corte não são vacinados contra a EA, pois estão protegidos com os anticorpos maternos advindos da imunização dos lotes de reprodutoras. A administração de vacina viva nessas aves pode causar doença clínica e é contraindicada.
A soroconversão é lenta, por conta disso, recomenda-se avaliação sorológica 8 semanas após a primeira dose da vacina. A monitoria dos títulos poucas semanas pós-vacinação pode levar os sanitaristas a crerem que não houve resposta imune satisfatória ou até mesmo erro no processo de vacinação. Estudos demonstram a curva crescente na média de títulos a partir das 4 semanas pós-vacinação, assim como a diminuição do coeficiente de variação (CV). Há de se atentar também para o fato de que os kits disponíveis hoje no mercado possuem diferentes graus de sensibilidade ao vírus da encefalomielite aviária, portanto pode haver diferenças significativas nas médias de títulos obtidas de acordo com o laboratório adotado. Os gráficos abaixo, gerados a partir de um estudo realizado pela Zoetis, utilizando a Provac®AE, vacina viva atenuada contra EA, cepa Calnek 1010 (cepa neurotrópica adaptada em ovos), corroboram essas informações.
Figuras 1 e 2: Títulos sorológicos para EA obtidos de dois kits de diagnóstico pós-vacinação sob diferentes vias de aplicação. Fonte: MS Resende et al. Avaliação sorológica da resposta vacinal contra Encefalomielite Aviária em diferentes protocolos e vias de aplicação 2017.
Como podemos observar, todos os tratamentos demonstraram um aumento nos títulos sorológicos da 4ª para a 8ª semana após a primeira vacinação. Esse é um ótimo indicativo de que para uma melhor monitoria dos títulos vacinais, a coleta não deveria ser realizada antes de 4 semanas pós-vacinação. Ademais, observou-se diferença entre os níveis detectados de anticorpos entre os diferentes kits de ELISA e embora tenha havido diferença, ambos foram eficazes na detecção da resposta humoral.
Outro aspecto interessante do vírus da EA é a sua capacidade de disseminação lateral, pois embora se propague rápido para todo o lote não é aconselhável vacinar somente uma parte das aves, por conta do risco de proteção insuficiente e desigual. O vírus vacinal da EA é comumente administrado pela via oral (água de bebida) em reprodutoras. Essa prática é comum no dia a dia dessas granjas, mas requer cuidados para que não tenhamos prejuízos na proteção das aves e da progênie. Podemos citar alguns cuidados inerentes a esse tipo de processo. São eles:
- Suspender o uso de medicamentos e desinfetantes na água de beber horas antes e depois da vacinação;
- Estimular a sede das aves antes da administração da vacina;
- Calcular corretamente o volume a ser consumido de água a fim de que todas as aves do lote tenham oportunidade de beber e que a solução vacinal seja consumida até 1 hora após a preparação.
Essas boas práticas quando seguidas a contento garantem a boa imunização dos plantéis. Entretanto, não é difícil encontrar empresas que temendo erros, passam a adotar estratégias alternativas de aplicação da vacina de forma individual, seja via gavagem ou ocular. Alguns experimentos demonstram que são meios eficazes e seguros, mas são claramente mais laborosos quando comparados a uma aplicação massal. Cabe, isto posto, aos veterinários avaliarem o quão necessário é a adoção dessa prática e o quão seguros eles estão dos processos dentro da empresa.
Autor:
Antônio Neto – M.V Serviços Técnicos | Zoetis – Aves