CONHECENDO AS VACINAS DISPONÍVEIS CONTRA A DOENÇA DE NEWCASTLE E SEU PAPEL NO CONTROLE E PREVENÇÃO DESTA ENFERMIDADE

A doença de Newcastle pode ser considerada uma das maiores preocupações à indústria avícola mundial, principalmente devido às elevadas perdas econômicas acarretadas por possíveis surtos. Esses prejuízos estariam ligados não somente às altas taxas de mortalidade (podendo ser de até 100% em aves suscetíveis, em poucas horas), mas também às expensas com a contenção do surto. Entretanto, é no comércio de produtos avícolas que reside a maior preocupação com esta enfermidade. O surgimento de casos da doença de Newcastle impõe ao país acometido uma série de barreiras comerciais internacionais. No caso do Brasil, maior exportador de carne de frango do mundo, as consequências teriam um impacto sem precedentes na produção nacional.

Não há um tratamento que seja efetivo contra a doença de Newcastle, logo, medidas de biosseguridade, boas práticas de manejo e vigilância constante, ajudam na prevenção e no controle desta enfermidade. Como forma de prevenção, a vacinação tem sido uma prática comum em basicamente todos os países que produzem aves em escala comercial. No Brasil, a vacina só é obrigatória (de acordo com a Instrução Normativa MAPA nº 56/07) para os estabelecimentos avícolas que alojam aves de ciclo longo, reprodutoras e poedeiras comerciais. Entretanto, independente da obrigatoriedade, grande parte das empresas adotam vacinas contra o vírus da doença de Newcastle (VDN) em seus programas.

Dispomos hoje de diversos tipos de vacinas para compor os esquemas de vacinação nos diferentes segmentos de produção (frangos de corte, postura comercial, reprodutoras). Desde as convencionais vacinas vivas atenuadas e inativadas, até as mais recentes tecnologias de vacinas vetorizadas (recombinantes).

Cepas lentogênicas (de baixa patogenicidade) e mesogênicas (de patogenicidade intermediária) são usadas nas vacinas vivas atenuadas. As estirpes mesogênicas (Mukteswar, Komarov e Roakin, por exemplo), são mais imunogênicas e são usadas em situações de desafio com cepas velogênicas (alta patogenicidade). Por conseguinte, não podem ser utilizadas na primovacinação, apenas em doses de reforço, além de poderem causar severas reações pós-vacinais em lotes positivos para micoplasma. Vale destacar, entretanto, que estas cepas não estão autorizadas para uso no Brasil, por acarretar restrições no comércio de produtos oriundos de aves. Já as cepas lentogênicas são adequadas para a primovacinação e/ou reforço nos lotes, sendo estas as estirpes mais comuns e mais utilizadas no mundo todo: La Sota, HB1, Ulster, C2, VG/GA, V4 e cepa F.

As vacinas inativadas têm grande utilização em aves de vida longa, como poedeiras e reprodutoras. Comumente utilizadas antes da fase de postura, estas vacinas, quando aplicadas em aves que foram primovacinadas com vacinas vivas, promovem uma resposta humoral intensa e duradoura devido à indução da produção de anticorpos que passam a circular em maior quantidade no organismo das aves.

Por sua vez, as vacinas vetorizadas têm a capacidade de induzir imunidade tanto contra o vírus vetor quanto contra o gene-alvo inserido. O advento desta tecnologia possibilitou uma aplicação mais precisa e precoce, devido à vacinação acontecer no incubatório (via subcutânea ou in ovo).

No caso das vacinas recombinantes que protegem as aves da doença de Marek e da doença de Newcastle, utilizando a cepa HVT como vetor e o gene F do VDN como doador (figura 1), o processo de construção desse tipo de imunizante envolve mecanismos de engenharia genética muito peculiares. A escolha do sítio de inserção do gene-alvo e qual o promoter (gene inserido para dar início à produção da proteína alvo) escolhido, por exemplo, são etapas do processo de concepção da vacina, extremamente importantes e, que muitas vezes diferenciam características de um certo produto frente aos seus concorrentes.

Pensando na precocidade e eficácia da proteção, uma dica fundamental é a de que o produtor deve buscar aquelas vacinas com o vetor HVT mais rápido, ou seja, vacinas com um menor onset of immunity, que nada mais é, traduzindo literalmente, aquelas que possibilitam o início da imunidade de forma mais precoce. É somente a partir do momento em que o vetor HVT inicia a replicação no hospedeiro, que a proteína F tem a oportunidade então de amadurecer e se expressar, expondo assim esse epítopo ao sistema imune. Finalmente, após reconhecido, inicia-se a resposta celular e produção de anticorpos.

Figura 1: Construção de um vetor HVT para expressar genes de um vírus doador.
Fonte: Adaptado de R. Hein et al.

Na prática, os esquemas de vacinação em aves de ciclo curto utilizam vacinas vivas/vetorizadas, enquanto as aves de ciclo longo, recebem além destas vacinas, as inativadas.

Alguns cuidados devem ser observados no processo de vacinação contra a doença de Newcastle. Ao ser aplicada no incubatório, por via subcutânea ou in ovo, a manipulação das vacinas vetorizadas deve seguir rígidos protocolos durante o seu manuseio, principalmente por se tratar de vacinas congeladas. Passando pela sua retirada dos botijões de nitrogênio líquido, pela diluição e reconstituição no diluente apropriado, até a correta aplicação pelo operador da vacinadora pneumática, ou na vacinadora in ovo, todos esses passos são pontos críticos que devem seguir as boas práticas à risca.

Quando falamos das vacinas vivas atenuadas liofilizadas, e a sua aplicação por via spray, a atenção deve estar voltada para os seguintes pontos, em especial, para que tenhamos uma boa imunização:

  • Verificação do correto funcionamento dos equipamentos pulverizadores;
  • Usar de diluente e corantes apropriados para auxílio no processo;
  • Verificar o tamanho da gota (deve ser grossa >100 μm);
  • Observar o intervalo de aplicação entre as doses. Intervalos longos podem levar a reações vacinais indesejadas devido a uma baixa imunidade.
  • A administração de vacinas vivas de micoplasma, por exemplo, deve obedecer a um intervalo mínimo de pelo menos 1-2 semanas da aplicação de uma vacina respiratória (caso da vacina viva contra a doença de Newcastle).

Por fim, obviamente, a aplicação, independente da via, seja ela spray, água de bebida ou ocular, deve seguir critérios rígidos para que possamos obter uma imunização eficaz de todo o plantel.

Curiosidade: Um aspecto interessante sobre o comportamento do VDN é a sua capacidade de se replicar naturalmente em células tumorais. Esse atributo (ser um vírus oncolítico) tem permitido aos pesquisadores utilizá-lo como agente terapêutico no combate aos tumores, em experimentos in vitro e in vivo. Em resumo, o que se tem buscado é modificar geneticamente o VDN, introduzindo no seu material genético um gene capaz de expressar proteínas que causariam a apoptose (morte celular) das células tumorais. Os estudos são preliminares, mas o que se tem visto até o momento parece bastante promissor e traz esperanças para o combate de uma doença tão nefasta.

Semana que vem, temos um encontro marcado para falar sobre o controle oficial, métodos laboratoriais de diagnóstico e a legislação que norteia a vigilância, controle e prevenção da doença de Newcastle. Até lá!

Conheça nossas soluções de prevenção da doença de Newcastle:

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Autor:

Antônio Neto – M.V Serviços Técnicos  | Zoetis – Aves

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