O nome REOvírus refere-se a REO – respiratory enteric orphan – agente “órfão” – originalmente sem patologia definida – dos sistemas respiratório e entérico. O reovírus aviário pertence à família Reoviridae e ao gênero Orthoreovirus. O vírus possui RNA de fita dupla e não possui envelope, o que confere maior resistência aos desinfetantes em geral. O vírus é altamente contagioso, podendo ser disseminado em todo o ambiente de criação rapidamente. A maioria das cepas encontradas no campo não são virulentas. Mas, pelas características próprias dos vírus RNA, podem sofrer alterações ou mutações, tornando-se virulentas.
Algumas cepas podem ser transmitidas verticalmente, porém a transmissão horizontal é a mais frequente. O vírus pode entrar tanto pelo trato respiratório, digestivo ou por lesões na pele. Nenhum tecido é considerado alvo específico, entretanto, o reovírus possui maior tropismo para replicação no intestino, articulações e fígado. O vírus pode ficar latente por longos períodos, principalmente nas tonsilas cecais e articulações. Reprodutoras infectadas ainda jovens podem ter o vírus latente até a idade adulta, ocasionando lesões nas articulações (Ni & Kemp, 1995). A transmissão vertical diminui com o avanço da idade das matrizes, à medida que uma sólida resposta imune é estabelecida.
Os quadros mais comuns associados à infecção de reovírus são: artrite/tenossinovite; síndrome de má absorção e imunossupressão. As apresentações clínicas diversas dependem de vários fatores, entre eles a cepa viral. A idade do animal também é um fator importante, pois sabe-se que quanto mais jovem a ave se infecta, mais graves serão as lesões clínicas. Em condições em que as aves não apresentem nenhum tipo de comprometimento imune, a susceptibilidade vai até a segunda ou terceira semana de idade. A via de entrada do vírus também desempenha um papel importante. Muitos quadros de artrite, por exemplo, somente são reproduzíveis com a inoculação através do coxim plantar.
Figura 01: frango de corte com tenossinovite infectado por reovírus.
Figura 02: rompimento do tendão gastrocnêmio em matrizes.
As lesões articulares têm severidade aumentada nas aves pesadas, devido ao maior esforço articular. As aves doentes têm dificuldade locomotora, andar claudicante e recusam caminhar, em consequência do edema e da dor articular. O processo inflamatório articular (edema) pode impedir o trabalho dos tendões, que travam e não deslizam pelas bainhas tendinosas. O travamento dos tendões já fragilizados pela infiltração leucocitária e edema pode resultar na sua completa ruptura.
Existem 3 categorias de proteínas presentes na estrutura viral – denominadas lambda (λ), mi (μ) e sigma (σ). A classificação por sorotipo é feita com base na proteína de superfície sigma (σ) (Palomino-Tapia et al. 2018). Pode haver grandes diferenças de apresentação clínica em cepas geneticamente próximas como apresentação clínica semelhante em cepas geneticamente distintas (Egaña-Labrin et al., 2019). Existe uma reação cruzada entre a maioria dos diferentes sorotipos, bem como proteção cruzada moderada.
Os reovírus são agrupados em cinco grupos genotípicos distintos denominados clusters:
I – Vacina, Ia e Ib;
II – IIa, IIb e IIc;
III;
IV – IVa e IVb;
V.
A classificação filogenética é baseada no alinhamento do gene σC usando um conjunto de dados mundiais (GenBank). De acordo com estudo epidemiológico realizado no Brasil por De Carli et al. (2020), avaliando 100 amostras positivas para reovírus, isoladas de casos de tenossinovite, os clusters mais representados foram Ib (48,2%), IIb (22,2%), III (3,7%) e V (25,9%). Outra conclusão importante desse trabalho é que em uma mesma ave foi possível identificar amostras de quatro diferentes clusters.
Neste contexto é de suma importância o conhecimento do sorotipo ou grupo genotípico prevalente no campo, para auxiliar na escolha do programa de imunoprofilaxia de forma assertiva.
No próximo texto iremos abordar sobre o diagnóstico e ferramentas preventivas para a doença.
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Autor:
Josias Rodrigo Vogt – Assistente Técnico | Zoetis – Aves