Por Nelson Watanabe
O lançamento do governo federal do Plano de Ação para a Neoindustrialização (2024-2026) em janeiro deste ano era aguardado com boas expectativas pela cadeia industrial produtiva do País. É sabido que a desindustrialização do Brasil infelizmente é um fenômeno que tem ocorrido desde os anos 80, causado por fatores diversos, entre os quais se destacam a elevada carga tributária, o excesso de burocracia, a falta de infraestrutura eficaz, o alto custo de energia e, mais recentemente, os efeitos da crise sanitária causados pela pandemia de Covid-19. Tudo isso faz com a indústria fique como que “patinando sobre óleo” e não consiga sair do lugar.
Partindo desse quadro preocupante, um projeto de neoindustrialização do Brasil teria tudo para ser visto com bons olhos, inclusive pelo agronegócio. Atualmente a mecanização dos estabelecimentos da agricultura familiar chega a 18%. O Plano tem como meta aspiracional para 2033 aumentar a participação do setor agroindustrial no PIB agropecuário para 50% e alcançar 70% de mecanização dos estabelecimentos de agricultura familiar, com o suprimento de pelo menos 95% do mercado por máquinas e equipamentos de produção nacional, garantindo a sustentabilidade ambiental.
Os objetivos do Plano são claros: aumentar a produtividade no campo e o valor agregado da produção agrícola brasileira; alinhar as políticas industrial e de comércio exterior; mecanizar a agricultura familiar; desenvolver máquinas, equipamentos e insumos nacionais para reduzir risco de variações de oferta internacional.
De acordo com a Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), há hoje no Brasil 450 fabricantes dedicadas ao setor de máquinas e equipamentos agrícolas, incluindo companhias internacionais. Alcançar 70% de mecanização do campo em dez anos é uma meta ambiciosa. Porém, o Plano do governo federal esbarra em uma questão de ordem prática: mesmo que a indústria consiga produzir o suficiente para suprir essa demanda, haverá financiamento em igual escala para o consumidor final dessas máquinas?
Até o momento, ainda não estão definidas claramente as regras de como isso funcionará. É preciso haver um equilíbrio claro entre o fornecimento de máquinas e o mercado capaz de comprá-las. Para isso, é preciso que o governo federal ofereça juros mais baixos, incentivos e segurança fiscal aos dois lados dessa corda, que dependem um do outro para a evolução de ambos os setores.
A neoindustrialização do Brasil é necessária em todos os setores, mas além do lançamento de planos que nos trazem otimismo, precisamos de regras claras de como esses projetos serão colocados em prática. O agronegócio brasileiro possui hoje tecnologia mais do que suficiente para atender as demandas de todas as regiões do País e investidores prontos a trabalhar para que essa indústria cresça em ritmo avançado. Porém, antes de colocar as máquinas em funcionamento, é preciso saber como será essa conta poderá ser paga. E isso ainda não está claro no Plano lançado pelo governo. Necessitamos de mais segurança para podermos investir na capacidade produtiva e em novos produtos para oferecer aos clientes da agricultura familiar meios para que sejam alcançadas as metas de produção definidas pelo Plano de Neoindustrialização.
* Nelson Watanabe é gerente Nacional de Vendas da Agritech Lavrale, fabricante de tratores, microtratores e implementos Agritech para agricultura familiar.
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