Quando falamos sobre as vacinas vivas contra a Salmonella, o sistema imune de mucosa das aves ganha enorme notoriedade, pois é esse sistema que realiza a defesa do organismo do hospedeiro contra a invasão do patógeno. Naturalmente o epitélio das aves está exposto a uma enorme quantidade de microrganismos. A maioria dessa população é comensal, mas também podem estar presentes os patógenos potenciais incluindo a Salmonella. Sendo assim, o epitélio, constituído por uma fina camada de células, é essencial para a manutenção da saúde da ave e requer proteção contínua contra a invasão. Parte dessa proteção é dada pela própria atuação do epitélio como barreira física bem como com as primeiras linhas de defesa contra infecções das células epiteliais unidas pelas junções ocludentes, pelo muco, pelo baixo pH em determinadas porções do trato gastrointestinal, por enzimas (pepsina), por peptídeos antibacterianos e também pela flora bacteriana normal. Além dessa defesa inata e não específica, a proteção das mucosas se faz pelo sistema imune adaptativo onde antígenos serão reconhecidos e eliminados de maneira específica.
Estrategicamente os tratos gastrointestinal, respiratório e genitourinário são dotados de sistema imune de mucosa com a finalidade de proteger a extensa superfície de contato existente, sendo que grande parte dos agentes infecciosos invade o hospedeiro por essa via desencadeando doenças. No caso específico da Salmonella, um gênero bacteriano da família das Enterobactérias, o trato gastrointestinal é a principal via de manutenção e invasão. Da mesma forma que o patógeno, a estirpe vacinal viva contra a Salmonella também tem na mucosa o seu principal sítio de atuação para estimular a resposta imune protetora.
Estima-se que três quartos de todos os linfócitos estejam localizados no sistema imune de mucosa e esse sistema é o principal responsável pela produção das imunoglobulinas das aves. Dessa forma, o sistema imune de mucosa é considerado o principal compartimento do sistema imune. O intestino tem sido denominado o principal “órgão imune” dos vertebrados e imagina-se que o sistema imune de mucosa foi o primeiro compartimento a desenvolver-se durante o processo evolutivo. Forte indicativo disso é o fato de que tanto o timo quanto a bolsa de Fabrício derivarem do intestino embrionário. Tem-se proposto que o sistema imune de mucosa representa o sistema imune original, e que baço é uma especialização posterior.
Resumo esquemático da resposta imune da mucosa contra Salmonellaenterica serovar Typhimurium.
Fonte: Gayet et al. Vaccination against Salmonella infection: the Mucosal Way, Microbiology and Molecular Biology Reviews, v. 81, issue 3, 2017.
As vacinas vivas contra a Salmonella imitam a infecção de campo e, portanto, tem capacidade de interagir com o sistema imune de mucosa resultando em imunidade específica por produção de IgA (anticorpo de mucosa) como por imunidade celular (especialmente linfócitos CD8+ – citotóxicos). Além disso, a administração da vacina viva produz intensa ativação de mecanismos imunes inatos da mucosa como ativação e recrutamento de macrófagos, estímulo à liberação de linfocinas e ocupação dos sítios de ligação na mucosa intestinal. Todos esses mecanismos tem sido bastante investigados e por isso a vacina viva tem sido considerada uma das ferramentas mais completas para o controle da Salmonella em Avicultura.
Autor:
M.V. Dr. Eduardo Muniz – Gerente de Serviços Técnicos e ciências aplicadas | Zoetis – Aves