A transformação do ovo. De vítima, em vilão.

Na sexta-feira da semana passada, 1º de julho, quem assistiu na tevê aos jornais da noite viu o ovo ser acusado de “maior vilão da inflação em tempos de pandemia”. Pois, comparativamente ao preço alcançado em março de 2020 (ocasião em que a ainda não batizada Covid-19 foi reconhecida pela OMS como evento pandêmico), em maio de 2022 o ovo foi comercializado por valor mais de 220% superior. Isto, frente a uma inflação oficial que não chegou a 20% (19,90%, pelo IPCA do IBGE).

A notícia sobre o aumento excepcional do ovo esteve em foco nos principais veículos de comunicação do País – falados, escritos, televisados. Abaixo reprodução de chamada da Revista Globo Rural

Originou a informação, transmitida para os meios de comunicação em geral, o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Que, naturalmente, surpreendeu a todos que acompanham o dia a dia do setor de postura. Inclusive a equipe do AviSite e do OvoSite que, já no primeiro dia útil desta semana, enviou mensagem ao Instituto e à sua assessoria de imprensa pedindo, entre outras informações, a fonte do preço do ovo em maio de 2022.

Para entender, basta explicar que na tabela do IBPT a dúzia de ovos alcançou em maio último, o valor de R$22,51. Como em março de 2020 foi comercializada por R$6,99/dúzia, aumentou astronômicos 222%. Por não corresponder à realidade, foi isso que também gerou o pronunciamento da ABPA ontem divulgado pelo AviSite e pelo OvoSite.

É óbvio que o valor levantado para maio de 2022 se encontra totalmente distorcido. E o IPCA do IBGE deixa isso absolutamente claro: nos 12 meses encerrados em março de 2021 (primeiro ano da pandemia) o preço do ovo foi corrigido em 9,31%; doze meses depois (março de 2022) a correção ficou em 16,11%; e no bimestre abril/maio o aumento foi de, respectivamente, 2,19% e 1,51%. Assim, o acumulado fica em 31,66% – não em 222%, como mostra a tabela do IBPT.

Outra confirmação do gênero vem do Procon-SP. Cujos levantamentos mensais acerca dos preços praticados no varejo paulistano mostram que, de R$7,28/dúzia em março de 2020, o preço do ovo subiu para R$10,01/dúzia em maio de 2022. Diferença de cerca de seis pontos percentuais em relação ao que foi levantado pelo IBGE, o que significa acumulado de 37,5% entre março de 2020 e maio de 2022.

É verdade – e ninguém nega – que o ovo aumentou acima da inflação “oficial’. Tivesse seguido o IPCA seu preço seria 19,9% superior ao de março de 2020 mas, conforme o Procon-SP, aumentou quase o dobro disso. Porém, com total justificativa, todos sabem, pois apenas tentou acompanhar os custos de produção, que se elevaram muitíssimo mais no período analisado.

Aparentemente, não há levantamentos oficiais sobre o custo de produção de ovos. Assim, recorre-se aos da Embrapa Suínos e Aves específicos para o frango de corte, mas com certeza aplicáveis também ao ovo. E o que a Embrapa mostra é que, entre março de 2020 e maio de 2022, o custo de produção do frango passou de R$3,29/kg para R$5,62/kg, o que representa aumento de 75%. Quer dizer, o dobro do reajuste obtido pelo ovo.

 

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